domingo, 23 de janeiro de 2011

A Mediadora - Crepúsculo

 Desta vez é vida ou morte. A série A Mediadora, de Meg Cabot, chega ao fim com Crepúsculo. Suzannah Simons, uma adolescente nova-iorquina que poderia ser tachada de comum se não tivesse o dom - ou seria a sina? - de falar com os mortos, terá que tomar uma difícil decisão. Suzannah já se acostumou com os fantasmas em sua vida. Eles a acordam no meio da noite, reviram seu armário e aprontam coisas ainda mais sinistras. Como mediadora, pode não somente ver fantasmas, como também interagir com eles. E foi assim que se apaixonou por Jesse, um gato do século XIX. Mas, suas questões vão muito além de assuntos do coração: sua função é entender as mágoas dos mortos e ajudá-los a resolver os problemas com os vivos.
Quando ela e Paul Slater - mediador de força inegável e intenções dúbias - descobrem que seus poderes vão muito além de ajudar fantasmas a resolver seus problemas terrenos, Suze pira de vez. É muito aterrorizante ter o destino dos fantasmas em mãos, podendo alterar o curso da história, principalmente porque Paul também sabe como fazer isso. E ele adoraria evitar o assassinato de Jesse, impedindo-o de virar fantasma e lhe garantindo uma vida tranqüila, finalmente… mas no século XIX. Isso significaria que Jesse e Suzannah jamais se conheceriam. Suze então está diante da decisão mais importante da sua vida: deixar o único cara que já amou voltar para seu próprio tempo, impedindo assim sua morte… ou ser egoísta e mantê-lo a seu lado como um fantasma. O que Jesse escolheria: viver sem Suzannah ou morrer para amá-la?
Aventura, mistério e romance. Crepúsculo é o sexto e último volume da série A Mediadora, de Meg Cabot, autora da série O diário da princesa, vendida para 37 países além dos Estados Unidos.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Assombrado - Meg Cabot Série A Mediadora

Suzannah esta de volta as aulas.
Mas parece que seus piores pesadelos resolveram se tornar realidade. Paul Slater - o garoto que conhecera no último verão e de quem tem um medo terrível - acaba de se matricular na Academia da Missão Junipero Serra.
Que mistérios Paul Slater esconde?
Será que vale a pena se arriscar tanto para descobri-los?


para baixar: http://www.4shared.com/document/jW7T3xS7/a_mediadora_5.htm

Ótima Leitura!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A hora mais sombria (A mediadora) - Meg Cabot

Quem estará no quintal de Suzannah? No quarto livro da série 'A Mediadora', Suzannah recebe a visita de uma fantasma do século XIX, aparentemente enterra no quintal de sua casa. A ser-do-além é (ou era) simplesmente a noiva de Jesse, fantasma pelo qual Suzannah é apaixonada

Para Baixar

http://www.4shared.com/document/mdOvgxMR/A_Mediadora_4_-_A_Hora_Mais_So.htm

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A Reunião (A Mediadora) - Meg Cabot




Suzannah é uma adolescente como outra qualquer. Bem, quase... Ela tem um pequeno segredo: é uma mediadora. Fala com fantasmas e os ajuda a descansar em paz. Um dom um tanto incomum para ser dividido com os colegas, irmãos e até mesmo com a mãe.

Mas de uma pessoa Suzannah não conseguirá esconder seu segredo. Gina, sua melhor amiga de Nova York, está na cidade passando uns dias com ela. Durante sua estada, quatro adolescentes morrem num acidente de carro. E Suzannah se vê obrigada a abrir mão de seus dias tranqüilos com a amiga para ajudar as almas penadas. E para isso, ela precisará contar com a cobertura de Gina.

No entanto, não são só os fantasmas que precisam de ajuda. Michael Meducci, também envolvido no acidente, passa a ser perseguido e corre perigo. Mas quando forças sobrenaturais estão em ação quem está em segurança?

Reunião é o terceiro volume da série A Mediadora, iniciada com A terra das sombras e O arcano nove.



sábado, 8 de janeiro de 2011

A Mediadora 2 - O Arcano Nove (Meg Cabot)

Nesse emocionate livro, Suze começa a gostar da Califórnia, principalmente por causa de um certo fantasminha que assombra seu quarto. Nesse livro, o leitor tem direito a tudo, desde primeiro beijo até vampiros super esquisitos! vale a pena conferir!

Para baixar : http://www.4shared.com/document/L72E0QiN/A_Mediadora_2_-_O_Arcano_Nove.htm

Ótima Leitura amigos!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A Mediadora - Meg Cabot

 Nessa emocionante saga de 6 livros, a brilhante Meg Cabot prova que nasceu pra escrever. Conta a história de Suzannah (Suze para os amigos, Suzinha para sua mãe e Mi hermosa para seu amor Jesse), que muda-se pra Califórnia para viver  com sua mãe e o novo marido dela. Seria uma históra de uma adolescente comum, porém Suze guarda um segredo: ela é mediadora, isto é, vê espiritos que vagam pela terra e tem a função de ajuda-los a passarem para o lado de lá. Ela até gosta de ajuda-los, mesmo que as vezes ela tenha que dar uns chutes nos traseiros palido deles. Tudo estava muito bom, até conheçer o Jesse, seu amor ... do outro mundo. Uma emocionante saga. Cada dia postarei um livro!

 Quem se interessou e quizer baixar: http://www.4shared.com/document/tnTe6wfT/A_Mediadora_-_1_-_A_Terra_das_.htm

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O buquê - Lauren Myracle







Atenção, leitores! A historia e se segue foi inspirada em um conto que me assustou a beça quando eu era adolescente. Ele foi publicado em 1902 por W.W. Jacobs e chama-se “A pata do macaco”. Muito cuidado com o que voce deseja! –

Layren Myrcle

Lá fora, o vento chicoteava a casa de Madame Zanzibar, fazendo com que a calha batesse contra a parede. O céu estava escuro, apesar de ainda serem 16h. Dentro da sala decorada de forma extravagante, três abajures brilhavam
densamente, cada um envolto por cachecóis perolados. Um tom de rubi iluminava o rosto redondo de Yun Sun, enquanto que a luz sarapintada de roxo e azul conferia a Will um ar de morte recente.
— Está parecendo que você acabou de sair do caixão
— disse eu para ele.
— Frankie — me repreendeu Yun Sun. Ela inclinou a cabeça na direção da porta fechada do escritório da Madame Z, indicando que não queria que o meu comentário fosse ouvido. Um macaco vermelho de plástico estava pendurado na maçaneta, o que significava que Madame Z estava com clientes. Nós éramos os próximos.
Will deixou que seu olhar se perdesse no vazio.
— Eu sou um alienígena — disse ele, gemendo. Ele esticou os braços na nossa direção. — Quero seus corações e fígados.
—Ai, não! Um alienígena tomou o corpo do nosso querido Will! — Apertei o braço de Yun Sun. — Rápido, dê o coração e o fígado para que ele deixe Will em paz!
Yun Sun puxou o braço.
— Isso não tem graça nenhuma — disse ela com um tom de voz melodioso e ameaçador. — E se vocês não me obedecerem, eu vou embora.
— Deixe de ser tão certinha — respondi.
— Eu e minhas coxas gigantescas vamos nos retirar.
Não duvide.
Yun Sun tem achado que as suas pernas estão muito gordas, só porque o vestido super justo que ela escolheu para a formatura precisou ser um pouco afrouxado. Pelo menos ela tinha um vestido de formatura. E uma grande chance de usá-lo.
— Blablablá — eu disse de volta. O mau humor dela estava colocando o nosso plano, o único motivo para estarmos ali, em risco. A noite da formatura estava cada vez mais perto, e eu não ia ficar que nem uma infeliz sentada sozinha em casa enquanto todos estariam cheios de brilho dançando alegremente com seus saltos altos espetaculares. Eu me recusava a passar por isso, ainda mais porque eu sabia lá no fundo do coração que Will ia me chamar. Ele só precisava de um empurrão.
Abaixei o tom da voz para falar com Yun Sun e sorri para Will como se dissesse lá lá lá, conversa entre meninas, nada importante!
— Nós duas tivemos esta idéia, Yun Sun? Lembra?
— Não, Frankie, a idéia foi sua — disse ela sem abaixar a voz. — Eu já tenho o meu par, mesmo que as minhas coxas o esmaguem. Você é quem está esperando por um milagre.
— Yun Sun! — Olhei para o Will. Ele estava encabulado.
Menina má, abrindo o jogo dessa forma. Má, má, e muito malcriada.
— Ai! — gritou ela depois de receber o meu tapa.
— Eu estou muito chateada com você — eu disse.
— Chega de timidez. Você realmente quer que ele chame você, não quer?
Ai!
— Hum, meninas — disse Will. Ele estava fazendo aquela coisa fofa que ele faz quando fica nervoso.
O seu pomo de Adão balança para cima e para baixo rapidamente. Na verdade... essa imagem era meio desagradável, pois ela me fazia pensar em Adão no Paraíso com Eva, e isso me lembrava maçãs, abocanhar maçãs...
Enfim, Will tinha mesmo um pomo de Adão, e quando ele movia a garganta para cima e para baixo era muito fofo. Ele ficava vulnerável.
— Ela bateu em mim — delatou Yun Sun.
— Ela mereceu — eu retruquei. Eu não queria, porém, que essa conversa continuasse. Aquela frase já havia revelado o suficiente. Achei melhor fazer carinho na perna nem um pouco gorda de Yun Sun e disse:
— Mas eu perdôo você. Agora cale a boca.
O que Yun Sun não entendia — ou, provavelmente, o que ela entendia mas não compreendia — era que nem todas as coisas precisavam ser ditas em voz alta. Sim, eu queria que Will me chamasse para o baile de formatura, e eu queria que ele fizesse isso logo, porque a “A primavera dos apaixonados” ia acontecer em duas semanas.
Tudo bem, o nome do baile era brega, mas a primavera era para os apaixonados. Isso era uma verdade inquestionável. Assim como era inquestionável que Will era o meu amor eterno e que seria bom se ele conseguisse superar a timidez e tomar uma droga de atitude. Chega de tapinhas no ombro, risadinhas e guerras de cosquinhas! Chega de ficar se agarrando e tremendo, colocando a culpa nos filmes de terror que assistimos, como Vampiros de Almas e O Iluminado. Será que Will não via éramos feitos um para o outro?
Ele quase fez a pergunta na semana passada, eu tive 95,5 por cento de certeza. Nós estávamos assistindo Umalinda mulher — um filme um tanto superestimado, porém divertido. Yun Sun tinha ido à cozinha para pegar biscoitos, deixando nós dois sozinhos.
— Hum, Frankie? — disse Will. Os pés dele estavam batendo no chão, e seus dedos apertaram a calça jeans.
— Posso perguntar uma coisa para você?
Qualquer idiota entenderia o que estava por vir. Se ele quisesse que eu aumentasse o volume, ele apenas diria “Ei, Franks, aumente o volume.” Casual. Direto. Sem necessidade de perguntas preliminares. Contudo, já que houve uma pergunta preliminar... bem, que mais ele poderia querer me perguntar além de “Você vai à formatura?” A alegria eterna estava ali, a poucos segundos de mim.
E aí eu estraguei tudo. Seu nervosismo palpável me fez perder o controle, e em vez de deixar que o momento chegasse naturalmente, mudei de assunto de forma brusca. PORQUE EU SOU UMA IDIOTA.
— Ta vendo? É assim que se faz! — falei, apontando para a televisão. Richard Gere estava galopando em seu cavalo branco, que na verdade era uma limusine, até o castelo de Julia Roberts, que na verdade era um apartamento velho no terceiro andar. Na cena que assistíamos, Richard Gere aparecia no teto solar do carro e subia pelas escadas de emergência a fim de conquistar sua amada.
— Nada de papinho furado, de “eu acho que você é bonitinha” — continuei. Estava falando besteira, e eu sabia disso. — O negócio é agir, querido. O negócio é dar demonstrações de amor.
Will engoliu a saliva e murmurou um “Ah.” Ele olhou para Richard Gere com uma carinha de urso de pelúcia, pensando, certamente, que nunca conseguiria ser como ele, nunca mesmo.
Olhei para a televisão, ciente de que eu havia sabotado a minha noite de formatura com a minha própria estupidez. Eu não estava nem aí para “demonstrações de amor”; eu apenas ligava para o Will. Porém eu, brilhante que sou, o assustei. Porque no fundo, no fundo, eu estava sentindo mais medo do que ele.
No entanto, não seria mais assim — e era por isso que nós estávamos ali na Madame Zanzibar. Ela leria o nosso futuro, e, a não ser que ela fosse uma farsa, ela diria o que era óbvio para uma observadora imparcial: que eu e Will fomos feitos um para o outro. Ouvir isso de uma forma bem sóbria daria coragem a Will para tentar de novo. Ele me chamaria à formatura, e, dessa vez, eu daria espaço, mesmo que isso me deixasse nervosa. O macaco de plástico se mexeu na maçaneta do consultório.
— Olhe, está se movendo — sussurrei.
— Ih... — disse Will.
Um homem negro com cabelo cor de neve saiu do consultório arrastando os pés. Ele não tinha os dentes, o que fazia com que a metade inferior de seu rosto ficasse muito enrugada, como uma ameixa seca.
— Crianças — disse ele, tocando em seu chapéu. Will se levantou e abriu a porta da frente, porque ele era uma pessoa muito gentil. Uma rajada de vento quase derrubou o senhor, e Will o segurou.
— Nossa — disse Will.
— Obrigado, filho — respondeu o senhor. As palavras saíam um pouco abafadas, por causa da falta de dentes.
— Melhor eu me apressar antes que a tempestade comece.
— Parece que já começou — disse Will. Do outro lado da rua, galhos se moviam violentamente, fazendo muito barulho.
— Este ventinho de nada? — disse o senhor. — Ah, convenhamos, isso é só um bebezinho querendo mamar. Vai ficar muito pior quando anoitecer, pode escrever. — Ele olhou para nós. — Inclusive, crianças, não era para vocês estarem em casa, na segurança do lar?
Era difícil ficar ofendida quando um senhor sem dentes lhe chamava de “criança — mas por favor, era a segunda vez em vinte segundos. — Nós estamos no primeiro ano do ensino médio — respondi, — nós sabemos nos cuidar.
A risada dele me fez pensar em folhas mortas.
— Tudo bem, então — disse ele. — Vocês que sabem.
— Ele deu passinhos pequenos até a varanda. Will acenou e fechou a porta.
— Pessoa maluca — disse uma voz atrás de nós. Ao nos virarmos, vimos Madame Zanzibar na porta do consultório.
Ela usava calças de moletom rosa choque da Juicy Couture com um top da mesma cor, cujo zíper estava aberto até a altura das clavículas. Seus seios eram redondos, firmes e incrivelmente enxutos, considerando que ela não estava vestindo sutiã. Ela usava um batom laranja claro
que combinava com as suas unhas e com a guimba do cigarro
que já estava terminando entre os seus dedos.
— Então, nós vamos entrar ou vamos ficar aqui fora?
— perguntou ela para nós três. — Vamos desvendar os mistérios da vida ou deixá-los quietos onde estão?
Eu me ergui da cadeira e puxei Yun Sun comigo. Will fez o mesmo. Madame Z nos mandou entrar logo, e nós três sentamos juntos em uma poltrona estofada. Will percebeu que não cabíamos ali e foi sentar-se no chão. Me mexi para que Yun Sun me desse mais espaço.
— Viu? Elas são duas salsichas — disse ela, referindo-se as suas pernas.
— Chega para lá — comandei.
— Então — disse Madame Z, passando por nós e sentando-se atrás da mesa —, o que vocês querem?
Mordi o lábio. Como eu poderia explicar?
— Bem, você é médium, não é?
Madame Z soltou uma nuvem de fumaça.
— Nossa, Sherlock, o anúncio nas páginas amarelas lhe deu essa informação?
Fiquei encabulada, ainda que estivesse sentindo raiva. Minha pergunta havia sido uma forma de começar uma conversa. Ela tinha algum problema com inícios de conversas? Enfim, se ela realmente era médium, devia saber por que eu estava ali, certo?
— Bem... OK. Sim, claro, sei lá. Então eu acho que eu queria saber se...
— É mesmo? Fale logo.
Eu uni forças.
— Bem... eu queria saber se uma certa pessoa vai me fazer uma certa pergunta. — Não olhei para o Will, de propósito, mas ouvi a inspiração surpreendida dele. Ele não havia previsto aquilo.
Madame Z pressionou a testa com dois dedos e deixou seu olhar se perder no nada.
— Amem — disse ela. — Hum, hum. Estou recebendo respostas confusas. Ha uma paixão, sim — Yun Sun deu uma risadinha, e Will engoliu a saliva —, mas também ha... como posso dizer? Fatores que complicam?
"Poxa, muito obrigada, Madame Z", eu pensei. "Da para ir mais a fundo nisso? Alguma dica de como resolver esse impasse?"
— Mas ele... quero dizer, a pessoa vai agir em relação a essa paixão? — Eu estava firme, apesar do nó no estomago.
— Agir ou não agir... eis a questão? — disse Madame Z.
— Sim, eis a questão.
— Ahhh. Esta sempre e a questão. E o que as pessoas devem se perguntar e... — Ela interrompeu a fala. O olhar dela voltou-se para Will, e ela ficou pálida.
— O que? — perguntei.
— Nada — disse ela.
—Tem alguma coisa — retruquei. A performance do recebimento de mensagens do alem não estava me convencendo. Ela queria que acreditássemos que ficou possuída de repente? Que ela teve uma visão definitiva e poderosa? Ate parece! Apenas responda a droga da pergunta! Olhando para mim com olhos vazios, ela disse:
— Se uma arvore cai em uma floresta e ninguém esta por perto para escutá-la, mesmo assim ela faz barulho?
— O quê? — eu respondi.
— É tudo o que tenho para lhe dizer. É pegar ou lar­gar. — Ela parecia estar agitada, então resolvi aceitar. Mesmo assim, dei um olhar desconfiado para Yun Sun quando Madame Z não estava olhando.
Will disse que não tínha uma pergunta específica, mas a Madame Z estava insistindo de forma estranha em dar uma mensagem para ele de qualquer maneira. Ela passou as mãos pela aura dele e pediu que tivess^ cuidado com as alturas, o que era curiosamente apro­priado, pois Will adorava escalar montanhas. A reação dele foi muito curiosa. Primeiro, suas sobrancelhas se elevaram, e depois uma nova emoção tomou o seu ros­to, como se ele estivesse sentindo um prazer antecipa­do. Ele olhou para mim e ficou corado.
  O que está acontecendo? — perguntei. — Você está com aquele olhar de quem guarda segredo.
— Como é que é? — disse ele.
— O que você está escondendo, Will Goodman?
— Nada, eu juro!
— Não seja bobo, menino! — respondeu Madame Z. — Escute o que estou lhe dizendo.
— Ah, não precisa se preocupar com ele — eu falei —, ele sempre é impecável com a segurança. — Eu me virei para o Will. — Não é? Você vai escalar em al­gum lugar inusitado? Ou comprou algum equipamento novo?
— É a vez de Yun Sun — disse Will, — Vamos lá, Yun Sun.
— Você faz leitura de mão? — Yun Sun perguntou à vidente.
Madame Z respirou fundo, e parecia não estar muito empolgada quando passou os dedosisobre a pele fofa do polegar de Yun Sun.
— Você vai ser tão bonita quanto se permitir — disse ela. E só. Aquelas foram as pérolas de sabedoria dela.
Yun Sun parecia estar tão decepcionada quanto eu, e eu senti vontade de protestar a nosso favor. Fala sério! Uma árvore ná floresta? Cuidado com as alturas? Você vai ser tão bonita quanto se permitir? Mesmo com os toques um tanto convincentes no ambiente assustador, nósitrês estávamos sendo enganados. Eu, em especial.
No entanto, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, um telefone celular tocou na mesa. Madame Z pegou o aparelho e utilizou uma unha bem longa para apertar o botão e aceitar a ligação.
— Madame Zanzibar, a seu serviço — disse ela. Sua expressão mudou enquanto escutava a pessoa que falava do outro lado da linha. Ela ficou mais ativa e irritada.
— Não, Silas. Chama-se... sim, você pode falar sim, uma candidíase. Candidíase.
Yun Sun e eu trocamos um olhar aterrorizado, mes­mo que — não tinha como evitar — as duas estivessem contentes. Não porque Madame Z tinha uma candi­díase. Eca. Era porque ela estava falando sobre isso com o Silas, seja ele quem ele fosse, enquanto nós estávamos ali escutando. Agora o nosso dinheiro estava valendo a pena.
— Diga ao médico que é a segunda vez neste mês — resmungou Madame Z —, preciso de algo mais for­te. O quê? Para a coceira, seu idiota! A não ser que ele queira coçar para mim! — Ela se virou na cadeira gira­tória, colocando uma perna vestida de Juicy Couture em cima da outra.
Will olhou para mim, seus olhos castanhos estavam bem abertos.
— Eu não vou coçar para ela — sussurrou ele —, me recuso!
Gargalhei, achando ótimo que ele estivesse fazendo gracinha. A experiência com a Madame Z não havia terminado como eu imaginara, mas quem sabe? Talvez aquilo tudo acabasse tendo o efeito esperado, afinal.
Madame Z apontou para mim com a guimba do ci­garro, ainda aceso, e eu abaixei o queixo em sinal de respeito. A fim de me distrair, me concentrei na coleção variada de coisas estranhas nas prateleiras. Um livro in­titulado A magia do ordikário e outro chamado O que fazer quando os mortos falam Mas você não quer ou­vir. Cutuquei Will com o joelho e apontei. Ele fingiu que estava apertando o pescoço de alguém, e eu tive que engolir uma gargalhada.
Logo acima dos livros, estava o seguinte: uma gar­rafa de veneno de rato, um monóculo antigo, um jarro cheio de unhas cortadas, um copo da Starbúéks todo manchado, e um pé de coelho com garras. E na prate­leira de cima havia uma... ah, que fofa.
— Aquilo é uma caveira? — perguntei ao Will.
Ele sussurrou.
— Que maravilha.
  OK, pessoal — disse Yun Sun, desviando os olhos—, se aquilo realmente é uma caveira, não me importa. Podemos ir embora agora?
Segurei a cabeça de Yun Sun com as minhas mãos e a virei para o lugar certo.
— Olha lá. Ainda tem até cabelo. Madame Z fechou o celular.
— Idiotas, todos eles — disse ela. A palidez havia desaparecido; aparentemente, a conversa com Silas a deixou um pouco sem jeito. — Ah, vocês acharam o Fernando!
— A caveira é dele? — perguntei. — E do Fernando?
— Ai, meu Deus — resmungou Yun Sun. s
— Voltou à superfície depois de uma enchente, no cemitério Chapei Hill — contou Madame Z. — Foi isso o que aconteceu com o caixão. Um trambolho de ma­deira horrível, provavelmente do início do século XX. Ninguém quis cuidar dele, então fiquei com pena e o trouxe para cá.
— Você abriu o caixão? — perguntei.
— Sim. — Ela parecia estar orgulhosa. Fiquei imagi­nando Madame Z com as calças da Juicy Couture rou­bando caixões.
— Esse treco ainda tem cabelo, é meio nojento — eu disse.
Ele ainda tem cabelo — disse ela. — Respeito, por favor.
  Eu não sabia que cadáveres tinham cabelo, só isso.
-— Pele, não — disse Madame Z. — A pele apodrece logo no começo e, acredite, você não ia querer sentir o cheiro disso. Mas o cabelo? Às vezes, ele ainda conti­nua a crescer mesmo depois que a pessoa faz sua pas­sagem.
— Nooossa. — Eu estiquei a mão e desarrumei os cachos castanhos de Will. — Ouviu isso, Will? Às vezes, o cabelo continua crescendo.
— Incrível — disse ele.
—- E aquilo? — perguntou Yun Sun, apontando para uma cumbuca plástica que continha uma coisa averme­lhada, parecia um órgão, flutuando em um líquido cla­ro. — Por favor, não me diga que aquilo também veio do Fernando. Por favor.
Madame Z deu um tapinha no ar como se quisesse dizer Que ridículo.
—Aquilo é o meu útero. Pedi de volta para o médico depois da minha histerectomia.
— Seu útero? — Yun Sun parecia estar com nojo.
— Eu ia deixar eles jogarem no lixo? — disse Mada­me Z, — Claro que não!
— E aquilo? — Apontei para umas folhas secas que estavam na prateleira mais alta. Essa brincadeira de adi­vinha com os objetos estava muito mais divertida do que a própria consulta.
Madame Z seguiu a direçâo do meu olhar. Ela abriu a boca e depois a fechou.
— Aquilo não é nada — disse ela, com firmeza, mantendo o olhar fixo no objeto. — E aí, a sessão ter­minou?
— Por favor — eu juntei as mãos como se estivesse rezando —, diga o que é.
— Você não quer saber — disse ela.
— Quero — respondi.
Eu não quero — disse Yun Sun.
— Quer sim — retruquei. — E Will também quer, não é mesmo, Will?
— Não deve ser pior do que o útero — disse ele. Madame Z cerrou os lábios.
— Por favor? — eu implorei.
Ela resmungou algo sobre adolescentes idiotas e que ela se recusava a ser culpada do que fosse acontecer. En­tão, ela se levantou e apalpou a última prateleira. Seus seios não se mexeram, ficaram firmes e rígidos embai­xo do top. Ela pegou as folhas e as colocou na nossa frente.
— Ah — murmurei, — um buque. — Frágeis botões de itosas, cujas extremidades estavam marrons e finas como uma seda. Ramos de pequenas flores acinzenta­das, tão secas que quase se desmantelaram pela mesa. Um laço vermelho flácido unia as flores.
— Uma camponesa francesa colocou um feitiço nele — disse Madame Z com um tom difícil de decifrar. Era como se ela estivesse sendo obrigada a falar aquilo, mesmo que não quisesse. Melhor. Era como se ela qui­sesse falar aquilo mas estivesse relutando contra isso.
— Ela queria mostrar que o amor verdadeiro era guia­do pelo destino, e que qualquer um que tente interferir corre um grande perigo.
Ela fez que ia guardar o buque.
— Espere! — gritei. — Como funciona? O que ele faz?
— Não vou contar — disse ela, decidida.
— "Não vou contar?" — eu repeti. — Quantos anos de idade você tem, quatro?
— Frankie! — disse Yun Sun.
— Você é igual a todas, não é? — disse Madame Z para mim. — Capaz de fazer o que for por um namo­rado, não é mesmo? Desesperada por um romance de tirar o fôlego, custe o que custar.
Senti o meu rosto ficando quente. A verdade, no en­tanto, estava ali, exposta na mesa. Namorados. Roman­ces. A esperança acesa em meu peito.
— Conte logo — disse Yun Sun —, senão nós não vamos conseguir ir embora daqui nunca.
— Não — insistiu Madame Z.
— Ela não pode, porque ela inventou isso — eu disse. Os olhos de Madame Z se acenderam. Eu a havia
provocado, o que não era muito bom, mas algo me di­zia que, qualquer que fosse a história, ela não a havia inventado. E eu queria muito saber o que era.
Ela colocou o buque no centro da mesa, onde ele ficou deitado, imóvel.
— Três pessoas, três desejos, um para cada — decla­rou Madame Z —, essa é a mágica.
Yun Sun, Will e eu nos entreolhamos e começamos a rir. Era ridículo e, ao mesmo tempo, perfeito: a tempes­tade, a louca, e agora o pronunciamento agourento.
No entanto, a maneira como Madame Z ficou olhando para nós fez com que nossas risadas fossem se apagando. A maneira como ela olhava para Will, em especial.
Ele tentou ressuscitar o tom hilário.
— Mas então, por que você não o usa? — perguntou ele com um jeito de adolescente que quer ajudar.
— Eu usei — disse ela. O batom laranja era como uma mancha.
— E... seus três desejos se realizaram? — eu pergun-tei.
— Todos eles — disse ela com um tom monótono. Nenhum de nós sabia o que dizer.
  Mais alguém já usou isso? — perguntou Yun Sun.
— Uma outra senhora. Não sei quais foram os seus dois primeiros desejos, mas o último foi a morte. Foi assim que o buque veio para mim.
Nós ficamos sentados e tivemos que engolir nos­sa bobeira. A situação parecia irreal, e no entanto, ali estávamos.
— Cara, isso é assustador — disse Will.
— Mas... por que você ainda tem isso — eu pergun­tei — se já usou os seus três desejos?
  Excelente pergunta — disse Madame Z após olhar para o buque por alguns intermináveis instantes.
Ela pegou um isqueiro azul-turquesa do bolso e o acen­deu. Em seguida, ela tomou o buque com determina­ção, como se estivesse fazendo algo que já devia ter feito há tempos.
— Não! — gritei, pegando o buque. — Deixe que eu fique com ele, se você não o quer mais!
— Nunca. Ele deve ser queimado.
Meus dedos se fecharam em cima das pétalas de ro­sas. Elas tinham a textura da bochecha enrugada de meu avô, a pele que eu sempre acariciava quando o vi­sitava no asilo.
— Você está cometendo um erro — avisou Madame Z. Ela estendeu a mão para pegar o arranje, e a puxou para trás rapidamente. Senti a mesma energia dentro de mim que havia sentido quando eu pedi que ela falasse sobre o buque. Era como se ele tivesse algum poder so­bre nós. O que era ridículo, é claro.
— Ainda há tempo de mudar o seu destino — argu­mentou ela.
— E qual seria o meu destino? — questionei. Minha voz travou. — Seria uma árvore caindo em uma floresta que eu, coitadinha de mim, não conseguiria escutar por causa dos meus fones de ouvido?
Madame Z me encarou com os seus cílios grossos. A pele em volta deles era tão fina quanto papel crepe, e eu percebi que ela era mais velha do que eu havia imaginado.
— Você é uma menina grossa e sem educação. Você merece levar uma surra. — Ela se recostou na cadeira giratória, e eu soube — assim, no meio do nada — que ela havia se libertado do poder do buque. Ou talvez o buque tivesse deixado que ela fosse? — Fique com ele, é a sua decisão. Eu não me responsabilizo por nada.
— Como se usa? — eu perguntei. Ela suspirou.
— Por favor — eu pedi. Não queria ser chata. Porém, aquilo era muito importante. — Se você não me explicar, vou fazer tudo errado. Eu provavelmente vou... sei lá. Destruir o mundo.
— Frankie... deixe isso para lá — disse Will. Balancei a cabeça. Não havia como.
Madame Z olhou para mim com um ar de desapro­vação. Tudo bem.
— Você o segura com a mão direita e fala o seu de­sejo em voz alta — disse ela. — Mas eu estou avisando, isso não vai acabar bem.
— Você não precisa ser tão negativa — eu disse. — Não sou tão idiota quanto você pensa.
— Não, você é bem mais idiota — concordou ela. Will interferiu, pois esse era o seu papel. Ele detes­tava clima tenso.
— Então... você não o usaria novamente, caso pu­desse?
Madame Z ergueu as sobrancelhas.
-— Você acha que eu preciso de mais desejos?
Yun Sun deu um suspiro forte.
— Bem, eu com certeza preciso de um desejo. Peça que eu tenha as coxas da Lindsay Lohan, por favor?
Eu amava os meus amigos. Eles eram tão maravi­lhosos. Eu ergui o buque, e Madame Z se engasgou e segurou o meu pulso.
— Pelo amor de Deus, garota — exclamou ela —, se você vai fazer um desejo, pelo menos faça um que seja válido!
— É, Frankie — disse Will —, pense na coitada da Lindsay. Você quer que ela fique sem as coxas?
— Ela ainda teria as canelas — eu argumentei.
— Mas elas ficariam soltas? Que produtor de filmes vai contratar uma mulher que só tem o tronco?
Dei uma risada, e Will pareceu estar satisfeito com ele mesmo.
— Ai, eca — disse Yun Sun.
A respiração da Madame Zanzibar estava acelerada. Ela pode ter desistido de insistir comigo, mas o medo dela ao me ver levantando o buque não pôde ser con­trolado.
Eu coloquei o buque na minha bolsa-carteiro com cuidado para não amassá-lo. Depois, eu peguei minha carteira, paguei o dobro do que a Madame Zanzibar havia cobrado. Sem nenhuma explicação, apenas entre­guei as notas. Ela as contou, e depois me examinou com um ar de cansaço.
"Tudo bem", era o que ela parecia dizer. "Só... fique atenta." Nós fomos para a minha casa pedir uma pizza, pois esse era o nosso ritual de sexta à noite. Sábados e domingos também, com bastante frequência. Meus pais estavam em licença sabática em Botsuana por um semestre, o que significava que o lar da Frankie era a central das festas. Só que nós não fazíamos festas de verdade. Apesar de todas as condições favoráveis: fininha casa era localizada a muitos quilómetros da cidade em uma es­trada velha, sem vizinhos próximos para reclamar. No entanto, nós preferíamos a nossa companhia, com apa­rições ocasionais de Jeremy, o namorado de Yun Sun. Jeremy achava que Will e eu éramos estranhos. Ele não gostava de abacaxi na pizza dele, e não compartilhava o nosso gosto para filmes.
A chuva batia com força no teto da picape de Will en­quanto íamos pelas curvas fechadas do Restoration Bou-levard, passando pelo Krispy Kreme e o Piggly Wiggly, e pela torre de abastecimento de água da cidade, que se erguia até o céu em sua glória solitária. A cabine da ca­minhonete estava apertada com nós três lá dentro, mas não me importava. Eu estava no meio. A mão de Will tocava a minha perna quando ele ia trocar de marcha.
— Olhem, o cemitério — disse ele, inclinando a ca­beça em direção ao portão feito de ferro a sua esquerda. — Será que devemos fazer um minuto de silêncio para o Fernando?
— Acho que sim — eu disse.
Um raio iluminou as fileiras de lápides, e eu pensei comigo mesma que os cemitérios eram lugares realmen­te muito sinistros e assustadores. Ossos. Peles apodreci­das. Caixões que às vezes eram desenterrados.
Eu estava feliz por estar indo para casa. Fui de quar­to em quarto acendendo todas as luzes enquanto Will pedia a pizza e Yua Sun vasculhava a lista de lançamen­tos em DVD da nossa locadora.
— Escolha alguma coisa divertida, hein? — eu falei, andando pelo hall.
— Não pode ser Jogos mortais? — disse Yun Sun. Me juntei a ela na sala e analisei a lista.
Que tal High School Musical? Não tem nada de assustador em High School Musical.
— Você só pode estar brincando — disse Will, desli­gando o telefone. — A Sharpay e o irmão dela fazendo aquela dança sexy com as maracás não é assustador?
Eu gargalhei.
— Meninas, decidam vocês, e divirtam-se — disse ele. — Tenho coisas para fazer.
— Você vai embora? — disse Yun Sun.
— E a pizza? — eu perguntei.
Ele abriu a carteira, tirou uma nota de vinte dólares do bolso e colócou-a na mesinha de café.
— Vai chegar em 30 minutos. Fica por minha conta. Yun Sun balançou a cabeça.
— Repetindo: você vai embora? Você nem vai ficar para comer?
— Preciso fazer um negócio — disse ele.
Meu coração ficou apertado. Eu faria qualquer coisa para ele continuar ali, mesmo que fosse só por mais um pouco. Corri para a cozinha e tirei o buque da Madame Z — não, o meu buque — de dentro da minha bolsa.
— Pelo menos espere até eu fazer o meu pedido — eu disse.
Ele ficou surpreso.
— Tudo bem, faça o pedido.
Eu hesitei. A sala estava quentinha e aconchegante, a pfeza ia chegar logo, e eu estava com os meus dois melhores amigos. O que mais eu poderia querer de ver­dade?
"Dã", disse a parte mais ambiciosa do meu cérebro. A formatura, é claro. Eu queria que Will me convidasse para ir com ele à formatura. Talvez fosse egoísmo ter tantas coisas e ainda assim querer mais, porém afastei este pensamento da minha cabeça.
"É só olhar para ele", pensei. Aqueles bondosos olhos marrons, aquele sorriso meio torto. Aqueles cachos ri­diculamente angelicais. Toda a doçura e a bondade que Willirepresentava.
Ele bateu na perna para imitar o som de tambores rufando. Eu levantei o buque.
— Quero que o menino que eu amo me convide para a festa de formatura — eu disse.
— E isso aí, pessoal! — exclamou Will. Ele estava eufórico demais. — E qual menino não gostaria de le­var nossa fabulosa Frankie à formatura? Agora nós te­mos que esperar e ver se o desejo dela vai...
Yun Sun o interrompeu.
— Frankie? Tudo bem?
— Ele se mexeu — eu disse, me afastando do buque que eu havia jogado no chão. Eu estava suando frio. — Juro por Deus, ele se mexeu quando eu fiz o pedido. E esse cheiro! Vocês estão sentindo?
— Não — disse ela. — Que cheiro?
— Você está sentindo, Will. Não está?
Ele sorriu, ainda com o jeito frenético que ele estava mostrando desde que... bem, desde que a Madame Z falou para ele evitar as alturas. Um trovão soou, e ele empurrou o meu ombro.
— Daqui a pouco você vai dizer que as fadinhas do mal provocaram a tempestade, não vai? — ironizou Will. — Melhor! Você irá para a cama hoje, e amanhã dirá que tinha uma criatura corcunda e cadavérica na sua cama, com um sorriso malvado na cara!
— Cheiro de flores podres — eu disse. — Vocês não estão mesmo sentindo? Não estão brincando comigo?
Will tirou as chaves do fundo do bolso.
— Câmbio, desligo. E, Frankie?
— O quê?
— Não desista — disse ele —, coisas boas acontecem para os que esperam.
Fiquei olhando pela janela enquanto ele ia embora na caminhonete. A chuva caía pesada. Me virei para Yun Sun, sentindo alguma coisa muito estranha dentro de mim.
— Você ouviu o que ele disse? — Agarrei as mãos dela. — Ai, meu Deus. Você acha que isso significa o que eu acho que isso significa?
— O que mais isso poderia significar? — disse Yun Sun. — Ele vai chamar você para a festa de formatu­ra! Ele só... sei lá. Está querendo fazer uma superpro­dução!
— O que você acha que ele vai fazer?
—Não faço ideia. Contratar um carro de som? Man­dar um telegrama cantado?
Eu dei um grito. Ela deu outro. Nós duas pulamos de alegria.
— Tenho que admitir que o lance do desejo foi bri­lhante — disse ela. E em seguida deu um peteleco no ar para ilustrar o empurrão que Will precisava. — E a parte das flores podres? Muuuito dramático.
— Mas eu realmente senti o cheiro — disse.
— Rá-rá.
— Senti.
Ela olhou para mim e balançou a cabeça, surpresa. Depois, ela olhou para mim novamente.
— Bem, deve ter sido fruto da sua imaginação — dis­se ela.
— Deve ter sido — respondi.
Peguei o buque do chão, segurando-o cautelosamen­te. Eu o levei para a estante e o coloquei atrás de uma pilha de livros, feliz por tirá-lo da minha vista.
Na manhã seguinte, desci pelas escadas na esperança ingénua de encontrar... sei lá. Centenas de M&Ms for­mando o meu nome? Corações rosinhas desenhados com espuma nas janelas?
Em vez disso, encontrei um pássaro morto. Um corpo pequenino estava deitado no tapete da entrada, como se ele tivesse sido carregado pela água da chuva até a porta e batido com a cabeça ali.
Eu o envolvi em um papel toalha e tentei não sentir seu peso delicado enquanto eu o colocava no lixo do lado de fora.
— Desculpa, passarinho, tão bonito e fofo — eu dis­se. — Voe para o paraíso. — Eu deixei o cadáver cair, e a tampa da lata se fechou com uma batida.
Voltei para a casa ao som do telefone tocando. Pro­vavelmente Yun Sun, querendo notícias. Ela foi embora com Jeremy às onze na noite anterior, depois de me fa­zer jurar que eu ia contar para ela assim que Will tomas­se a atitude ousada.
— Oi, querida — eu disse, depois de olhar para o identificador de chamadas e ver que, sim, eu estava cer­ta. — Nenhuma novidade ainda, foi mal.
— Frankie... — disse Yun Sun.
— Tenho pensado na Madame Z, sabe. Aquela con­versa toda de não mexer com o destino.
— Frankie...
— De que maneira o convite do Will pode me levar a alguma coisa ruim? — Fui até a geladeira e peguei uma caixa de panquecas congeladas. — Por acaso a saliva dele é ácida? Ou ele vai me trazer flores e uma abelha vai me picar?
— Frankie, pare. Você não assistiu o jornal da manhã?
— Em um sábado? Claro que não. Yun Sun engoliu a saliva.
—Yun Sun, você está chorando?
— Ontem à noite.,. Will subiu na torre de abasteci­mento de água — disse ela.
— O quê?! — A torre de abastecimento devia ter uns 90 metros de altura, com uma placa aos seus pés proibin­do qualquer pessoa de subir. Will sempre falou em subir ali, mas ele era tão atento às regg^s que nunca o fez.
— E as grades deviam estar molhadas... ou talvez tenha sido um raio, eles ainda não sabem...
—Yun Sun. O que houve?
— Ele estava pichando alguma coisa na torre, aquele idiota, e...
— Pichando? Will?
— Frankie, quer calar a boca? Ele caiu! Ele caiu da torre!
Eu segurei o telefone com força.
— Jesus. Ele está bem?
Yun Sun não conseguia falar de tanto que chorava. O que era compreensível, claro. Will também era amigo dela. Porém, eu precisava que ela falasse.
— Ele está no hospital? Eu posso ir visitá-lo? Yun Sun!
Eu ouvi um choro, e depois um som abafado. A Sra. Yomiko pegou o telefone.
— Will morreu, Frankie — disse ela. — A queda, a maneira como ele caiu... ele não sobreviveu.
— Como é que é?
— Chen está indo buscar você. Você vai ficar com a gente, está bem? Quanto tempo quiser.
— Não — respondi —, quer dizer... eu não... — A caixa de panquecas caiu da minha mão. — O Will não morreu. Ele não pode ter morrido.
— Frankie — disse ela, sua voz infinitamente triste.
— Por favor, não diga isso — implorei. — Por favor, não faça uma voz tão... — Eu não sabia como fazer para que o meu cérebro pensasse.
— Sei que você o amava. Todos nós o amávamos.
Espere um pouco — eu disse. — Pichando? O Will não picha. Isso é uma coisa que um imbecil faz, não Will.                       
— Nós vamos trazer você para cá. Aí nós conversa­mos.
— Mas o que ele estava pichando? — eu supliquei. — Por favor! Chame a Yun Sun!
Houve mais um som abafado. Yun Sun veio falar.
— Eu vou dizer — respondeu ela — mas você não vai gostar de saber.
Uma sensação gelada se espalhou por mim e, de re­pente, eu não quis mais saber.
— Ele estava pichando uma mensagem. Era isso que ele estava fazendo lá em cima. — ela hesitou. — Dizia, "Frankie, você quer ir comigo na festa de formatura?"
Caí no chão da cozinha, ao lado da caixa de panquecas. Por que eu estava segurando uma caixa de panquecas?
— Frankie? — disse Yun Sun. Um som baixo e distante. — Frankie, você está aí?
Eu não estava gostando daquele som. Desliguei o te­lefone para fazê-lo desaparecer.
Will foi enterrado no cemitério Chapei Hill. Eu fiquei sentada, estática, durante todo o funeral. O caixão estava fechado porque o corpo de Will havia ficado muito desfigurado. Eu queria me despedir, mas como dizer adeus a uma caixa? Ao lado da cova, eu vi a mãe de Will jogar um punhado de terra sobre o caixão dentro do buraco onde ele ia ficar. Foi horrível, mas o horror pa­recia distante e irreal. Yun Sun apertava a minha mão. Eu não apertava a dela.
Choveu naquela noite, uma chuva mansa de prima­vera. Imaginei o solo, úmido e frio em volta do caixão de Will. Pensei em Fernando, cuja caveira havia sido libertada por Madame Zanzibar depois que seu caixão fora retirado da cova. Lembrei que a parte leste do ce­mitério, onde Will havia sido enterrado, era mais nova e parecia ser mais agradável. E, claro, havia meios mais modernos de desenterrar caixões hoje em dia, mais efi­cientes do que homens com pás.
O caixão de Will não iria ser desenterrado. Era im­possível.
Fiquei com Yun Sun por volta de duas semanas. Li­garam para os meus pais, e eles pensaram em voltar de Botsuana, mas eu disse que não. Que diferença faria? A presença deles não traria Will de volta.
Na escola, durante alguns dias, os alunos cochicha­vam e olhavam para mim quando eu passava. Alguns achavam que Will havia sido romântico. Outros acha­vam que ele havia sido um idiota.
— Uma tragédia — era o que diziam em tom de pesar.
Quanto a mim, eu perambulava pelos corredores como uma morta-viva. Eu teria faltado, mas eu acabaria sendo chamada pela coordenação e forçada a falar sobre os meus sentimentos. Isso não ia dar certo. O meu sofrimento era só meu, um esqueleto que ia me assom­brar por dentro para sempre.
Uma semana depois da morte de Will, exatamente uma semana antes da festa de formatura, os alunos co­meçaram a falar menos sobre o acidente e mais sobre vestidos e reservas para jantar e limusines. Uma menina pálida da sala de química do Will se irritou e disse quê a festa de formatura devia ser cancelada, mas os outros disseram que não, que a festa deveria acontecer. Will ia preferir que fosse assim.
Yun Sun e eu fomos consultadas, uma vez que éramos as melhores amigas dele. (E eu, afinal, mesmo que eles não tenham dito, era a menina por quem ele havia mor­rido). Os olhos de Yun Sun ficaram cheios de lágrimas, mas, depois de um momento de hesitação, ela disse que seria errado arruinar os planos de todo mundo, que fi­car em casa lamentando não faria bem a ninguém.
— A vida continua — disse ela. Jeremy, seu namo­rado, concordou. Ele pôs o braço em volta dos ombros dela e a abraçou.
Lucy, a presidente do comité de formatura, pôs a mão sobre o coração.
— É verdade — disse ela. Ela se virou para mim com uma expressão de dor. — E você, Frankie? Acha que estaria tudo bem?
Eu dei de ombros.
— Tanto faz.
Ela me abraçou, e eu me senti tonta.
— Bom, pessoal, vai rolar! — disse ela, dando pu­linhos. — Trixie, de volta ao trabalho com as flores. Jocelyn, diga à mulher que entrega papéis que precisa­mos de cem fitas azuis, e não volte até fechar um bom negócio!
Na noite da festa, duas horas antes da hora marcada para Jeremy pegar Yun Sun, eu coloquei minhas coisas na minha bolsa e disse que estava indo para casa.
— O quê? — exclamou Yun Sun. — Não! — Ela des­ligou o secador de cabelo. A maquiagem dela estava em sua frente, na penteadeira. O glitter de corpo da Baby-cakes, o gloss sabor framboesa. O vestido estava pendurado na maçaneta da porta do banheiro. Era lilás, com um decote em V. Era lindo.
— Já deu — eu respondi, — Obrigada por me deixar ficar por tanto tempo... mas já deu.
Seus lábios ficaram caídos. Ela queria argumentar, mas sabia que era verdade. Eu não estava feliz ali. Isso nem era o problema de fato — eu não ia ficar feliz em lugar algum —, mas ficar andando para lá e para cá na casa dos Komiko estava me fazendo sentir presa, e Yun Sun estava se sentindo inútil e culpada.
— Mas esta é a noite da formatura — disse Yun Sun, — Não vai ser estranho ficar sozinha em casa na noite da formatura? — Ela se aproximou de mim. — Fique até amanhã. Não vou fazer barulho quando entrar, eu juro. Prometo que não vou ficar falando e falando sobre... você sabe. As fofocas e quem ficou com quem e quem desmaiou no banheiro das meninas.
  Você deve falar sobre essas coisas, na verdade — eu respondi. — Você deve ficar até tarde e entrar fazendo barulho e se sentindo meio tonta e muito feliz e tudo o mais. — Meus olhos se encheram de lágrimas, inesperadamente. — Você deve fazer isso, Yun Sun.
Ela tocou o meu braço. Eu me afastei, tentando ao máximo disfarçar o movimento.
— Você também devia fazer isso, Frankie — disse ela.
— E... pois é. — Eu coloquei a bolsa no ombro.
— Ligue se precisar — disse ela. — Vou ficar com o celular ligado, até na hora da valsa.
— Pode deixar.
— E se você mudar de ideia, se decidir ficar aqui...
— Obrigada.
— E mesmo se você decidir ir na festa! Todos nós queremos você lá... sabe disso, não sabe? Não faz dife­rença se você não tem um par.
Eu pisquei. Ela não teve uma intenção ruim, mas o fato era que fazia toda a diferença que eu não tivesse um par, porque o par seria Will. E ele não estava comigo não porque ele gostasse de outra menina ou porque ele tivesse muito gripado, mas porque ele estava morto. Por minha causa.
— Ai, meu Deus... — disse Yun Sun. — Frankie... Eu a afastei de mim. Não queria mais ser tocada.
— Tudo bem.
Nós ficamos ali em pé dentro de uma bolha.
— Eu também sinto falta dele, sabe — disse ela. Eu fiz que sim com a cabeça e fui embora.
Voltei para minha casa vazia e descobri que a eletricida­de não estava funcionando. Perfeito. Isso acontecia com mais frequência do que deveria acontecer: as tempesta­des noturnas derrubavam galhos, que caíam em cima de algum transformador, e toda a vizinhança ficava sem energia por várias horas. Ou a eletricidade morria sem razão alguma. Talvez muitas pessoas ligassem os seus aparelhos de ar-condicionado ao mesmo tempo e os circuitos acabavam ficando sobrecarregados, essa era a minha teoria. A teoria de Will era que tinham fantas­mas, ha ha ha.
— Eles vieram para te assombrar — dizia ele com uma voz assustadora.
Will.
Minha garganta ficou apertada.
Tentei não pensar nele, mas era impossível, então deitei que ele existisse dentro da minha mente. Prepa­rei um sanduíche de pasta de amendoim que eu não comi. Fui para o andar de cima e fiquei na cama, dei­tada sobre os lençóis. As sombras ficaram mais profun­das. Uma coruja piou. Olhei para o teto até que não conseguisse mais ver as teias de aranha.
No escuro, meus pensamentos vagaram por lugares indevidos. Fernando. Madame Zanzibar. "Você é igual a todas, não é? Desesperada por um romance de tirar o fôlego, custe o que custar."
Foi aquila sensação de desespero que fez nascer o meu plano idiota de ir na Madame Zanzibar e o meu desejo ainda mais idiota. Foi isso que impulsionou o WilL Se ao menos eu não tivesse ficado com o maldito buque!
Eu levantei. Meu Deus — o maldito buque!
Peguei o celular e apertei o três, o número de disca­gem automática da Yun Sun. O um era para mamãe e papai; o dois para WilL Eu ainda não havia deletadoU nome dele, e agora não precisaria mais fazer isso.
—Yun Sun! — eu berrei quando ela atendeu.
— Frankie? — disse ela. Estava tocando "S.O.S.", da Rihanna, ao fundo. — Você está bem?
— Estou — eu respondi, — melhor do que bem! Quer dizer, estou sem luz, está um breu completo, e eu estou sozinha, mas tudo bem. Não vou ficar assim por muito tempo. — Eu ri e fui até o corredor.
— O quê? — disse Yun Sun. Mais barulho. Pessoas rindo. — Frank, eu mal consigo ouvir você.
— O buque. Eu tenho mais dois desejos! — Fui cor­rendo até lá embaixo, pulando de alegria.
— Frankie, o que você...
— Eu posso trapê-lo de volta, você não está enten­dendo? Vai ficar tudo bem de novo. Nós podemos até ir à festa!
A v/ôÇde Yun Sun ficou séria.
— Frankie, não!
— Eu sou tão imbecil... por que eu não pensei nisso antes?
— Espere. Não faça isso, não faça o... — Ela parou de falar. Eu ouvi um "Opa", seguido por um pedido de desculpas e alguém dizendo "Ai, eu amo o seu vestido!" Parecia que todos estavam felizes. Eu estaria me diver­tindo junto com eles em breve.
Fui até a sala e parei na frente da estante de livros onde eu havia deixado o buque. Passei a mão pelos li­vros e abri um espaço entre eles. Meus dedos encontra­ram algo macio, como pétalas.
— Pronto — disse Yun Sun. Os sons ao fundo ha­viam diminuído, como se ela tivesse saído do salão. — Frankie, eu sei que você está triste. Eu sei disso. Mas o que aconteceu com o Wiil foi apenas uma coincidência. Uma coincidência muito, muito terrível. -
— Chame do que você quiser — respondi —, eu vou fazer o meu segundo desejo. — Tirei o buque de trás dos livros.
Yun Sun ficou mais nervosa.
— Frankie, não, você não pode!
— Por que não?
— Ele caiu de uma altura enorme! O corpo dele ficou... Eles disseram que ficou... Foi por isso que ele ficou em um caixão fechado, lembra?
— Ele já está apodrecendo dentro do caixão há treze dias! — berrou ela.
—Yun Sun, isso é um comentário de muito mau gos­to. Honestamente, se fosse Jeremy a voltar à vida, será que estaríamos tendo esta conversa? — Aproximei as pétalas do meu rosto, tocando-as delicadamente com os meus lábios. — Olha, preciso ir. Deixem um pouco de ponche para mim! E para Will! Ah, peça logo para fazerem mais ponche para ele, eu aposto que ele está absolutamente maluco de sede!
Fechei o telefone e levantei o buque com as mãos.
— Desejo que Will fique vivo de novo! — eu berrei com convicção.
O cheiro de decadência tomou o ar. O buque se enco­lheu, como se as pétalas estivessem sendo sugadas para dentro de si. Eu o joguei para longe automaticamente, como se estivesse espantando um zumbido perto do ou­vido. Mas tudo bem. O buque não era o importante. O mais importante era o Will. Onde ele estava?
Olhei em volta ridiculamente, esperando que ele estivesse sentado no sofá me observando com um ar de Você jogou um bando de flores secas no chão? Que
boba!
O sofá estava vazio, uma forma fantasmagórica, re­luzente ao lado da parede.
Fui até a janela e olhei para fora. Nada. Apenas o vento, movendo as folhas das árvores.
— Will? — eu chamei.
Nada, novamente. Um abismo enorme de frustração se abriu em mim, e eu me joguei na cadeira de couro do meu pai.
"Frankie, sua idiota. Idiota, boba, patética."
O tempo passou. Cigarras cantaram.
"Cigarras idiotas."
E então, bem baixinho, um barulho. E depois outro. Eu fiquei ereta.
O som de pedrinhas na rua... ou talvez na entrada? Os barulhos ficaram mais próximos. Era um barulho cuidadoso e tinham um certo peso, como se algo esti­vesse sendo carregado.
Fiquei atenta para ouvir melhor.
Sim — um barulho a poucos metros da porta. Um barulho que era claramente de algo não humano.
Minha garganta se fechou quando as palavras de Yun Sun voltaram à minha memória. Deformado. Apodrecen­do. Ela havia dito isso. Eu não havia prestado atenção antes. Agora era tarde demais. O que eu havia feito?
Dei um pulo da cadeira e voei para o hall de entrada, me protegendo do possível olhar de alguém — ou de alguma coisa — que quisesse tentar me ver pela janela. O que exatamente eu havia trazido de volta à vida?
Uma batida ecoou pela casa. Eu gemi, e rapidamente coloquei a mão sobre a boca.
— Frankie? — chamou uma voz. — Eu, bem... ai. Estou meio desarrumado. — Ele gargalhou a mesma risada de sempre. — Mas estou aqui. Isso é o que im­porta. Estou aqui para levar você à festa de formatura!
—Nós não precisamos ir à festa de formatura! — res­pondi. Aquela voz trémula era minha mesmo? — Quem precisa da formatura? Que bobagem!
— Ah, sim! Isso vindo da garota que mataria um por um encontro amoroso perfeito. — A maçaneta se mexeu. — Você não vai me deixar entrar?
Minha respiração ficou acelerada.
Havia vários barulhos de objetos caindo, como se fossem morangos podres sendo jogados na lata de lix9 seguidos do comentário:
— Ih, cara. Que droga.
— Will? — sussurrei.
— Isso é meio bizarro... mas você tem removedor de manchas?
"Meu Deus. Ai, meu Deus."
  Você não está chateada, está? — perguntou Will. Ele parecia estar preocupado. — Vim o mais rá­pido que pude. Mas foi tão estranho, Frankie. Afinal, tipo...
Minha mente imaginou um buraco sem ar, lá fundo no chão. "Por favor, não", eu pensei.
— Deixe para lá. Foi estranho e ponto final. — Ele tentou animar o ambiente. — Você vai me deixar eaí? trar, ou não? Estou caindo aos pedaços aqui!
Pressionei meu corpo contra a parede. Meus joe­lhos tremiam, eu não estava conseguindo controlar os músculos, mas lembrei que estava segura atrás da por­ta, que era bem sólida. Mesmo tendo mudado, Will ainda era feito de carne e osso. Pelo menos parcial­mente. Ele não era um fantasma que podia atravessar as paredes,
— Will, você tem que ir embora — eu disse. — Co­meti um erro.
— Um erro? Como assim? — O ar confuso dele par­tiu o meu coração.
— É que... ai, meu Deus. — Comecei a chorar. — Nós não somos mais perfeitos um para o outro. Você entende, não entende?
— Não, eu não entendo. Você queria que eu pedisse que você fosse comigo à festa de formatura, e eu pedi isso. E agora sem razão alguma... ahh! Entendi!
— Entendeu?
— Não quer que eu veja você agora! E isso, não é? Está nervosa por causa da roupa!
Será que era melhor eu concordar? Dizer que sim para que ele fosse embora?
  Frankie. Cara. Você não precisa se preocupar. — Ele gargalhou. — Primeiro, você é linda; e depois, comparada comigo, você vai estar simplesmente... sei lá, um anjo do céu.
Ele parecia estar aliviado com aquela explicação, como se tivesse encontrado uma lógica em uma coisa estranha, mesmo sem conseguir entendê-la profunda­mente. No entanto, agora ele sabia: era apenas Frankie tendo problemas com autoestima. Bobinha!
Ouvi um barulho, e depois uma batida na madei­ra. Meu corpo ficou tenso, porque eu reconheci aquele som.
"O depósito de leite — droga. Ele lembrou da chave no depósito de leite."
— Vou entrar — disse ele, batendo na porta da fren­te. — Tá, Franks? Porque, cara... assim... eu estou mor­rendo de vontade de ver você!
Ele gargalhou, em júbilo.
— Quer dizer, não é isso, essa frase caiu meio mal... mas, enfim, acho até que uma piadinha desse tipo hoje cai bem. Tudo está caindo hoje — e quando eu digo tudo, é tudo mesmo!
Corri para a sala, onde fiquei com os joelhos e as mãos apoiados no chão. Se ao menos não estivesse tão escuro!
A fechadura fez um barulho, e Will virou a chave. A respiração dele fazia um chiado.
— Estou indo, Frankie! — disse ele. — O, de casa! Estou indo o mais rápido que posso!
O meu medo atingiu tal ponto que me senti em um outro estado da realidade. Eu estava ofegante e berran­do. Conseguia escutar a minha voz dentro de mim, e as minhas mãos tateavam o chão enquanto eu me arrasta­va.
A fechadura se abriu.
Pois não? — brincou Will.
A porta deslizou por cima do carpete no mesmo ins­tante em que os meus dedos encontraram o buque.
— Frankie? Por que está tão escuro? E porque você não está ...
Eu apertei os meus olhos com força e fiz o meu últi­mo desejo.
Todos os sons se calaram, exceto pelo barulho do vento nas folhas. A porta, ainda terminando o trajeto lentamente, bateu contra a parede. Fiquei onde estava, no chão. Chorei porque meu coração estava se partin­do. Não, meu coração estava completamente partido.
Depois de vários instantes, as cigarras mais uma vez emitiram o seu coro apaixonado. Fiquei de pé, camba­leei pela sala, e parei, tremendo, de frente para a porta aberta. Lá fora, a luz da lua iluminava a rua deserta.